Estruturas de fusión
Estamos perante o projecto vencedor do IX Prémio Galiza de Fotografia Contemporânea, que, como desde a primeira edição, integra o programa dos Encontros da Imagem. Lois Cid trabalha para ampliar as noções clássicas do documental fotográfico, algo que podemos ver tanto neste, como nos seus projectos anteriores. Um percurso que se centra na análise dos materiais com os quais o humano transforma o território e, ao mesmo tempo, estuda a sua implicação na criação e a modificação da paisagem contemporânea. A sua prática é uma viagem de ida e volta, perpetuada entre a reflexão e a experimentação com a paisagem antropizada, seja esta encontrada ou criada, com a que desenvolve uma obra muito visual e que transcende para o sensorial: o jogo de imagens limpas, a flutuação, o ritmo, a fluidez. «Estruturas de fusión» é um projecto que indaga espaços em construção como se fossem um jazigo arqueológico para analisar os resíduos que ficam depois do levantamento de um edifício, relacionando-os com os entulhos gerados pelo derrubamento de antigos prédios. Desde uma perspectiva material, os caminhos e explorações que partem da prática arqueológica, a prática artística de Lois Cid foca-se na análise dos vencelhos entre a materialidade, os conceitos de valor e as relações sócio-espaciais. Sob uma lógica de recolha – ou recuperação –, a sua obra negocia com o que se concebe como descartado ou silenciado para problematizar ideias sobre segregação, esquecimento e alteridade. Nesta diatribe, apresenta-nos conceitos ligados à temporalidade, à instabilidade e à disfuncionalidade, chegando a tornar os processos de construção e colapso numa mesma entidade difícil de diferenciar. Nesse meticuloso trabalho de campo, Lois decide visibilizar fragmentos redesenhados e materialidades dispersas, para trazer à tona certas contrapropostas através de uma alternativa à abstração. A partir da proximidade, combate o binarismo que separa o periférico do central ao brincar com uma heterogeneidade complexa que habita no popular contemporâneo, com uma certa singeleza com a qual poderíamos nomear os novos non-objectualismos. Este enigma reconsidera a relação dos objectos e das imagens e os possíveis correlatos da sua valorização no pensamento contemporâneo desbordado pelo consumo, a empresarialidade, o reconhecimento, a efemeridade do tempo e a territorialidade. O ensaio aponta para uma subjectividade política ou, melhor dito, para a suma das subjectividades populares, aquelas que carrilam no interior do modelo hegemónico (e instável) de ser e de estar. A chave aqui é o jogo com a materialidade, que Lois usa como pedra basilar para sintetizar e reutilizar diversos referentes. Uma condição artesanal que estoura camadas de sentido e desencadeia a resignificação de certos processos, onde o uso de metais, madeiras, tijolos ou tinta, resulta fundamental para (re)semantizar certos códigos enfrentados entre eles: construir e derrubar, criar e destruir, permanência e efemeridade, barulho e silêncio, vazio e ocupação. É assim que o autor gera essa estranheza no/a espectadora, ao mesmo tempo que lhe proporciona uma sensação de familiaridade que tem que ver com a padronização dos espaços que fotografa e que tantas vezes vimos, mas também com a proximidade a esses territórios cheios de pegadas humanas. Porque é possível que já não possamos imaginar a paisagem sem antropizar.
Vítor Nieves. Curador
local
→ Museu Nogueira da Silva (Braga)
horário
→ Terça a Sexta: 10h00–12h00/14h00–18h30
→ Sábado: 14h00–18h30
→ Domingos: Encerrado
Lois Cid
Técnico Superior em Fotografia Artística pela Escola de Arte Superior de Desenho Antonio Faílde de Ourense e Licenciado em Belas Artes pela Universidade de Castela-a-Mancha. Expande a sua formação com artistas como Erik Kessels, Antoine D’Agata, Virgilio Ferreira, David Jiménez, Charlotte Dumas, entre outros.Expôs na Dispara Galeria (Pontevedra, Galiza), Reino Unido (Grosvenor Gallery, Manchester) e Holanda (XPO Gallery, Enschede). Foi recentemente seleccionado para a IX edição dos Novos Encontros de Artistas que decorrem em Santiago de Compostela. «No meu trabalho procuro promover espaços que reformulem e reconstruam as funções básicas dos elementos em estudo, para explorar novas possibilidades de comunicação dentro das suas propriedades inerentes. Nessa perspectiva, tendo a me distanciar dos temas que pesquiso, analisando-os com uma visão fria, muito próxima de uma abordagem científica. Nos últimos anos tenho investigado a composição e transformação do espaço que me rodeia, propondo novas formas de abordar questões como o lugar, a localização, o território e a paisagem. Para isso utilizo a fotografia como ferramenta de análise e ao mesmo tempo a transformo em outro material, possibilitando um diálogo formal com os elementos que constituem o terreno»
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