Lara Jacinto

Dentro e Fora

De como as plantas procuram água.

Que coisas haverá para fotografar numa vida por dentro. As paisagens do espírito e do pensamento - pela vitalidade com que se inscrevem nos pequenos gestos do dia – não podem ser só uma imensa natureza crepuscular precedida de noite. Todos temos curiosidade de saber de que forma a natureza exterior, continua o seu território na vastidão que cada Homem pressente dentro de si.

O fotógrafo procura com a máquina. Movimenta-se de forma precisa relativamente à realidade, sondando de diferentes perspetivas a imensa possibilidade que as coisas têm de ser olhadas. Quando pressente um encontro pára; procura através da objetiva, regista aquele suspiro com um clique - gatilho de uma longa espera de revelação.

De vez em quando os contemplativos têm visões, confirmações e momentos de consolação, como fotografias. Depois voltam de novo ao tempo líquido dos dias, às escorrências que alimentam a sede dos campos, e ao acumular cristalino das moções do espírito em sítios de águas aparentemente paradas. Vivem na contemplação da quietude das árvores, meditando na forma como se mata a sede na profundidade, ou se mergulha os galhos na luz como braços feitos para se erguerem para o céu. 

 A água enquanto está na terra sabe que tanto pode ser dada ao fruto e a flor, como pode vir a ser alimento dos espinhos; experimenta como o temperamento da corrente, rapidamente lhe turva a limpidez. Talvez por isso quando olhamos para o tanque, para o lago, para a mina e para a profundidade do poço, aquilo que vemos é a urgência de refletir o céu.

    -Já reparaste no brilho dos olhos daqueles que foram retratados? São como a noite; um silêncio misteriosamente cravado de cintilações.

Fotossíntese: A máquina capta a luz através da abertura e do tempo. Tudo aquilo em que a luz tocou, surgirá aos nossos olhos por um processo de revelação. A fotografia é sobre a folha. Vemo-la como uma folha alimentada de luz.

 

Malheiro Sarmento

Julho 2021

  • Lara Jacinto (n.1982, Leiria) vive e trabalha no Porto. Trabalha como fotógrafa independente focada em projectos documentais. O seu trabalho aborda temas contemporâneos centrados em questões sociais, territoriais e emigração. Trabalha regularmente em encomendas para instituições públicas e privadas. O seu trabalho é exibido e publicado regularmente. 

    É co-fundadora da COLECTIVO, uma plataforma de pesquisa dedicada ao documentário, onde nos últimos 5 anos tem trabalhado no projecto de fotografia documental Thin Line, que procura refletir sobre o significado da Europa de hoje, a partir dos territórios de fronteira europeus, pondo em evidência os desafios de habitar um espaço único.

    Leciona na ESMAD, Instituto Politécnico do Porto e Instituto de Produção Cultural e Imagem.

     

     

     

    Exposição:

     

    Museu D. Diogo de Sousa (Braga)

    Terça a Domingo: 10h30 - 17h30

     

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