Ponto de Chegada
André Rodrigues
Nos últimos anos o litoral alentejano tem sofrido uma transformação profunda. Aliada à desertificação da sua população nativa, que busca a melhoria de condições de vida e de emprego em zonas mais desenvolvidas do país ou no estrangeiro, a instalação desregrada da agricultura intensiva atraiu um fenómeno de imigração em massa de trabalhadores sazonais à região.
Há pouco mais que uma década, os colossos multinacionais de frutos vermelhos descobriram uma Califórnia de baixo custo e produção intensiva. As planícies de seara e destinos turísticos paradisíacos estão a ser engolidos por mares de plástico em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano. Atrair os locais para a agricultura não é tarefa fácil; os baixos salários, a intensa carga física, e o desprestígio social associado ao trabalho agrícola afastaram, talvez definitivamente, a potencial mão de obra local.
Milhares de imigrantes oriundos de países asiáticos, estão a alterar profundamente a demografia do litoral alentejano. Aliada ao ritmo da chegada destes trabalhadores, verificou-se a proliferação do trabalho precário e exploração urbana. Se a maioria não se instala definitivamente, no último ano os pedidos de reagrupamento familiar têm vindo a aumentar. São cada vez mais as famílias que escolhem o litoral Alentejano como ponto de partida para uma nova vida. Numa inversão radical do fenómeno da década de 60, o Alentejo transformou-se de ponto de partida a ponto de chegada.
A dicotomia sócio-cultural e económica da região torna-a única pela sua dimensão, e a realidade da chegada de milhares de jovens estrangeiros todos os anos à região mais envelhecida do país merece uma profunda reflexão.
local
→ CAAA - Centro para os Assuntos da Arte e Arquitetura (Guimarães)
horário
→ Terça a Sexta: 14h – 19h
→ Sábado: 15h – 19h
André Rodrigues
Natural de Barcelos, André Rodrigues, iniciou o seu percurso na fotografia de forma autodidata desde a sua adolescência, tentando documentar visualmente as observações ornitológicas em que acompanhava os pais. Nessa altura não imaginava que a fotografia iria ser predominante na sua vida. Licenciou-se em Engenharia Biológica pela Universidade do Minho, mas em 2016 decide abandonar a área e perseguir o sonho do documento visual. Em 2018 terminou o Curso Profissional de Fotografia no IPCI (Porto), profissionalizando-se na área. Desde então trabalha como fotógrafo freelance em diversas áreas colaborando com publicações nas quais se destaca o jornal Público. Frequenta o Master em Fotografia Artística do IPCI, no âmbito do qual desenvolve o projecto “Ponto de Chegada”.