De acordo com a OMS, em 2017, havia mais de 50 milhões de pessoas com demência em todo o mundo. 7,7 milhões de novos casos são relatados anualmente, tornando-se cada um deles num fardo significativo para as famílias e sistemas de saúde. A demência é uma degeneração adquirida do cérebro, sendo caraterizada por uma diminuição persistente na atividade cognitiva, que conduz a uma perda de conhecimento adquirido anteriormente e habilidades práticas.Desde as primeiras  manifestações até aos estados graves, os pacientes necessitam de cuidados e apoio social.

Comecei a pesquisar sobre o problema da demência quando este foi diagnosticado na minha avó. Conversei com ela sobre a sua doença para que não perdesse o contato com a realidade. Também envolvi os meus filhos neste processo, o que foi  muito útil. Vislumbres do seu complexo e interessante caráter eram como pérolas que íamos sentindo através deste árduo trabalho de constante comunicação. Estes momentos tão queridos aos nossos corações, tais como, a crónica da luta contra "as trevas" e as visões de uma vida passada: infância militar, juventude fascinante, prática médica em condições desumanas e cruéis no interior da Rússia, formam a essência do projeto, que se tornou mais do que um projeto para mim.

Em determinado momento, senti a necessidade de fotografá-la naquelas horas em que ela falava sobre as suas visões. Tracei uma relação clara entre as memórias, impressões fortes e medos do passado da minha avó, e as visões dolorosas do presente. Não há final feliz nesta luta, a doença sempre vence, e esse pavor é visível. Quando as fantasmagorias se fundem com a realidade, é sempre assustador,  e a única coisa que pode ajudar é o cuidado e a proximidade presente dos familiares.