as luzes vermelhas invadem a noite
Ska Batista
Não precisamos de bulas. Nem de oráculos. Muito menos de dicionários, mapas e roteiros. Basta calçar estes pés escarlate e caminhar sem qualquer pressa a trilha diária daquele novembro. Estes recetores alados levam-nos sem qualquer aviso prévio. Flutuamos ao leste e sentimos o barro vermelho da existência percorrer os fragmentos do indizível.Não sabemos nomes. Nem sexos. Nem dialetos. Sob o mesmo céu preenchemos lentamente os pulmões. Um breve sonho entre o gozo, a vida e as nossas pequenas mortes diárias são o necessário para continuar a jornada. O banquete está posto. A mesa flutua sobre as nossas cabeças e corajosos que somos puxamos a toalha. Desnudamos a mesa. A velha toalha agora torna-se manto e nos aquece mais uma vez. Brindemos ao Tao. O licor será servido em ampolas e nos embriagaremos destas luzes vermelhas que, assim como lanternas mágicas, acendem ao cair da tarde. A noite agora cheira a romã. O nosso mergulho ainda não findou sem antes cerrarmos a vista com a neblina vaidosa, que nos transporta em elipses até outra dimensão. No caminho de volta é preciso erguer as pálpebras para ver o último ato do espetáculo: a graciosa dança onde fantasmas alegres se despedem enquanto a névoa se esvai.Lembremos sempre: códigos não importam. Nem fronteiras. E assim terminamos o nosso voo com uma semente de antúrio plantada bem no meio do peito.Nossa estrangeirice não existe mais. Somos apenas. E isso basta.
Manoella Valadares
local
→ IPCI - Instituto de Produção Cultural e Imagem (Porto)
horário
→ Segunda a Sexta: 9h30-13h00 / 14h30 - 18h00
→ Sábado: 9h00 - 13h00
→ Domingo: Encerrado
Ska Batista
Ska Batista, cursou Fotografia no Instituto Português de Fotografia de Lisboa entre os anos de 2014 e 2016, atualmente cursa Fotografia na Universidade Lusófona em Lisboa. Seu trabalho envolve características de Street Photography e carrega um tom experimental que mesmo não se enquadrando à um estilo específico é possível identificar nas suas obras assuntos e recursos recorrentes, nomeadamente os recursos de colagem, sobreposição, conurbação de informações e imagens, exploradas através de fotografias, vídeos e intervenções nos mesmos. Ska percorre temáticas que trazem uma inquietação sobre o pertencer e não pertencer, sobre ser estrangeira na sua própria casa – “Estou estrangeira de mim mesma”