Aqueles que falam no templo estão condenados à tristeza e ao infortúnio
Vladimir Seleznev
27 set – 30 out 2024
B-Lounge da U.Minho — Campus de Azurém
- Exposições
- Discovery 2024
- Guimarães
Curador: Vítor Nieves
Aqueles que falam no templo estão condenados à tristeza e ao infortúnio
No meu trabalho, reflito sobre as causas da apatia da sociedade russa, do ressentimento e da aparente indiferença face às políticas repressivas e agressivas do Estado.
Num romance sobre Ivan, o Terrível, e o despotismo terrorista do século XIV, o escritor russo Aleksey Tolstoi escreveu que o que mais o impressionava não era tanto o facto de Ivan IV poder existir, mas “que pudesse haver uma sociedade que olhasse para ele sem indignação”.
Ainda hoje assistimos a uma sociedade semelhante, formada por uma ditadura secular. Penso que uma das principais formas desta ditadura é a ortodoxia oriental – a fé e a identidade cultural da maioria dos russos. A doutrina ortodoxa, que se baseia na aceitação do sofrimento, no autossacrifício e na submissão a atitudes patriarcais, cria essa mentalidade. O título deste projeto é um exemplo flagrante disso mesmo: não se trata de uma ameaça, mas de um apelo típico para que se mantenha o silêncio dentro da igreja.
O sistema político russo utiliza a ortodoxia como mecanismo de propaganda. A afirmação “não há poder senão de Deus” (Romanos 13:1) é pronunciada por funcionários do Estado a nível nacional. De acordo com a Igreja Ortodoxa Russa (ROC), estão a ser abertas três novas igrejas por dia na Rússia. O chefe da ROC censura oficialmente o desejo de bem-estar e conforto, chama à Covid-19 “a misericórdia de Deus”, enquanto o presidente da Rússia informa que, em caso de guerra nuclear, “iremos para o céu como mártires”.
A militarização da Igreja está a tornar-se também uma das atitudes políticas dominantes. Constroem-se “templos militares”, consagram-se armas. Em 2023, justificando a invasão da Ucrânia, a ROC declarou que “o pacifismo é incompatível com o ensinamento ortodoxo”. A nova dogmática ortodoxa manifesta-se como um mecanismo cómodo e funcional de subordinação, de agressão militar e de sustentabilidade do poder.
Atualmente, a palavra “Deus” está consagrada na Constituição da Rússia e, desde 2013, foi introduzida no código penal uma lei sobre o insulto aos sentimentos dos crentes. Isto significa que, teoricamente, o meu trabalho fotográfico pode tornar-se uma ofensa criminal caso seja apresentada uma queixa.
Este projeto foi a última coisa em que trabalhei durante os últimos anos antes de deixar a Rússia. O meu objetivo é apresentar o mundo construído por uma visão da ideologia neo-ortodoxa moderna. Imagino um futuro possível para este país, cujos contornos fantasmagóricos se tornam cada vez mais visíveis no tempo presente.
B-Lounge da U.Minho — Campus de Azurém
Campus de Azurém s/n, Guimarães
Horário:
Segunda-feira – sexta-feira
08:30–20:00
Sábado e domingo
Encerrado