Dias lentos na ilha afortunada

Imane Djamil

20 set – 03 nov 2024
Avenida da Liberdade

  • Exposições
  • Fim-de-semana Inaugural
  • Discovery 2024
  • Braga

Curador: Vítor Nieves

Dias lentos na ilha afortunada, 2021–2024

A primeira vez que fui a Tarfaya foi há 10 anos e senti algo de mágico no momento em que cheguei.

Talvez devido à entrada sinistra da cidade, um cabo invisível à vista enquanto se conduz pela estrada nacional.

Ou talvez a magia seja apenas magia e não precise de explicação.

No mapa, sete pequenas formas ligeiramente maiores do que pontos aparecem à esquerda de Tarfaya, do outro lado do oceano. Tinha ouvido dizer que eram ilhas às quais não podíamos ir enquanto marroquinos. Este facto, naturalmente, contribuiu para o carácter misterioso de Tarfaya. Escusado será dizer que o tempo do apelo misterioso e do romantismo já lá vai há muito.

Alguns diziam que remontavam às Ilhas Afortunadas do Elísio, um paraíso terrestre criado para os heróis que escolhiam reencarnar três vezes.

Mas, na verdade, a lenda mais precisa e a única que vocês devem recordar é que estas ilhas, e em particular a mais próxima de Tarfaya, foram descobertas algures em meados dos anos noventa por Saïd e o seu irmão, dois militares que começaram a contrabandear pessoas e drogas através do oceano.

Só quando Tarfaya, uma cidade de 7.000 habitantes, se tornou a minha casa e deixou de ser a minha “namorada do liceu”, é que o nome desses sete pontinhos próximos começou a ser revelado. As Ilhas Canárias, pedaços de terra que os corajosos chamavam de ninfas, aprisionando os que caíam nos seus cânticos, sem outra fronteira para além das suas águas.

A mais próxima, a cerca de 60 e tal quilómetros de distância, Fuerteventura, quase tinha o nome de Ilha Afortunada.

Só que agora os heróis precisam de um pouco mais do que superpoderes e coragem para entrar. Precisam de um visto Schengen.

Frequentemente consideradas pelos muitos viajantes do Norte e Oeste de África como uma paragem no caminho para a Europa, as Ilhas Canárias, e mais precisamente Fuerteventura, são, no entanto, na perspetiva de um Tarfayan, uma fantasia profundamente enraizada do Ocidente que se desfaz à chegada em pedaços de déjà-vu e desespero, muitas vezes fazendo lembrar o que ficou para trás.

Slow Days in the Fortunate Isle passa-se num pequeno reino pessoal, dividido entre um leste historicamente decaído e um oeste quimérico e ilusório. É simultaneamente a forma de um triângulo e de um coração partido, rachado ao meio pelos ventos e ondas notórios do Atlântico, mas sobretudo por políticas de exclusão muito mais fortes do que qualquer oceano.

Avenida da Liberdade

Horário:

N/A (Espaço de rua)