KIRKA
Luca Rotondo
20 set – 03 nov 2024
Mosteiro de Tibães
- Exposições Coletivas
- Fim-de-semana Inaugural
- Emergentes 2023
- Braga
Esta obra faz parte de uma exposição colectiva Do Antropoceno: Antes, Ainda e Amanhã com curadoria de Vítor Nieves.
KIRKA
No final do século XX, não viviam mais de três ursos nos Alpes: eram três machos, demasiado velhos para se reproduzirem. Desde a segunda metade do século XIX, os ursos têm sido vítimas de uma caça selvagem visando aniquilar esta espécie dos Alpes. Missão quase cumprida. Em 1996, nasceu o projeto europeu “Life Ursus” com o objetivo de restabelecer, num prazo de vinte anos, uma população mínima viável através da reintrodução de dez ursos da Eslovénia. Três anos mais tarde, os primeiros ursos foram libertados na parte superior do Vale do Tovel, nas Dolomitas de Brenta, onde se encontravam os últimos três ursos que sobreviveram à carnificina do século anterior. Atualmente, em Trentino, há cerca de uma centena de ursos e o seu regresso reacendeu os mesmos conflitos que sempre marcaram a convivência homem-animal. O seu regresso despertou a ferocidade daqueles que continuam a afirmar que “os ursos nunca viveram aqui”.
O urso foi explorado como um elemento distintivo, um motivo de orgulho para todo o território. Assim, na região montanhosa mais densamente povoada do mundo, surgiram os primeiros acidentes de convivência. Simultaneamente, os movimentos de defesa dos direitos dos animais começaram a mobilizar-se para a salvaguarda da liberdade dos ursos. Os problemas na proteção de ursos como Daniza, JJ3 e M49 chamaram a atenção da imprensa nacional e internacional para a questão.
Na quarta-feira, 5 de abril de 2023, nos bosques acima de Caldes, em Val di Sole, o urso JJ4 atacou e matou Andrea Papi, de 26 anos. Foi o primeiro ataque fatal de um urso em Itália. Desde esse dia, o conflito entre o governo provincial, os ativistas dos direitos dos animais, a população de Trentino, os criadores e os caçadores reacendeu-se. Uns dizem para abater JJ4, outros para o prender, outros para transferir 70 ursos para “outro sítio”, outros para abater os animais problemáticos. E há ainda o jardim zoológico de Fasano, que está a pedir para ficar com a custódia do urso JJ4. Assim, enquanto uns os veem como um novo símbolo de uma revolução ambiental muito necessária, outros veem-nos como ladrões ou assassinos. Alguns estudam-nos, outros esgueiram-se pelas suas tocas. Kirka é a história da presença dos ursos nos Alpes ao longo dos séculos: desde os inúmeros restos fósseis encontrados na gruta de Conturines, ao mito de San Romedio, desde o chapéu de Oetzi, o Homem do Gelo, aos frescos da Torre dell’Aquila em Trento. Em última análise, Kirka é a história de como salvar uma espécie de uma extinção localizada e de como possibilitar a coexistência, demasiadas vezes ameaçada.
Mosteiro de Tibães
R. do Mosteiro n.º 59, 4700-565 Mire de Tibães
Horário:
Terça-feira – domingo
10:00–18:00
Segunda-feira
Encerrado
