Ouro branco
Amina Kadous
20 set – 03 nov 2024
SOMA — Plataforma Cultural
- Exposições Coletivas
- Fim-de-semana Inaugural
- Emergentes 2023
- Braga
Esta obra faz parte de uma exposição colectiva As Veias Abertas com curadoria de Vítor Nieves.
Ouro branco
O ouro branco é uma procura contínua da minha identidade pessoal e nacional. Um ciclo de perdas e possibilidades. O questionamento do que nos faz ser quem somos. Uma viagem de transformação e uma luta coletiva para existir, para registar e interiorizar as nossas memórias e manter viva a nossa história. Ajudando-nos a moldar como nos vemos a nós próprios e à nossa história nacional. A minha história pretende criar visualmente discursos sobre a origem, a memória, a história abandonada, a utilização e a preservação dos solos, os traumas pessoais, as batalhas que travamos dentro de nós enquanto tentamos situar-nos num mundo em constante mudança. Numa tentativa de questionar o legado pós-colonial do algodão egípcio ou do ouro branco, este é um conto sobre o algodão desvanecido como uma encarnação viva do Egipto.
Descreve a multiplicidade de camadas que a identidade egípcia possui. A história do algodão é a história de uma semente humana, um reflexo do Egipto e de mim própria. Tento, através deste trabalho, ligar-me e recordar o que resta das nossas sementes de algodão que estão a desaparecer, explorando o que costumava ser uma das indústrias-chave inseridas nos nossos tecidos coletivos.
Por baixo destas camadas, desdobra-se a linhagem do Egipto, do passado ao presente. O que poderia ter sido, o que perdemos e o que ainda pode ser? As primeiras sementes da minha identidade foram plantadas em El Mehalla Al Kobra, a minha terra natal e do algodão egípcio. Conhecida como a cidadela da indústria, era uma das cidades mais populares do Egipto para a colheita e a fiação de algodão branco. O meu bisavô era um comerciante de seda e lã, um dos primeiros em El Mehalla a liderar a fase inicial do popular comércio têxtil da época. Os meus fios de algodão remontam a três gerações. Em 1969, fundou a sua fábrica de têxteis e o meu pai juntou-se a ele na década de 1980. Agora que tento tecer o tecido da minha identidade pessoal, observo os meus laços familiares históricos e atuais, há um elemento que me dá um sentimento de pertença, que sou dos outros. Arrancada e extraída do solo, vi-me refletida na viagem do algodão, ambos, planta e homem, perdidos, fragmentados, tentando tecer os nossos fios comuns. Suportando a mudança interna e externa, tentando adaptar-me ao mundo exterior. Agarrando-me às minhas raízes envelhecidas no meio da paisagem sociopolítica, urbana e económica em mutação no Egipto, recorro aos legados dos meus avós, aos seus arquivos e a objetos encontrados para representar a beleza, a luta e a resiliência do meu povo, de mim própria e da minha identidade.
SOMA — Plataforma Cultural
Rua Capitão Alberto de Matos 4, 4700-211 Braga
Horário:
Quarta-feira – sábado
14:00–18:00
