Woman Go No’Gree
Gloria Oyarzabal
28 set – 02 nov 2024
IPCI — Instituto de Produção Cultural e Imagem
- Exposições
- Arquivo EI
- Porto
Curador: Vítor Nieves
A reexposição da obra de Gloria Oyarzabal não podia faltar nestes “Legados do Colonialismo”. Vencedora dos Discovery Awards em 2018, a sua presença naquele caloroso percurso inaugural marcou de forma indelével essa edição. Num ano em que o festival refletia sobre os conceitos de “Beauty e Consolation”, e num contexto em que o colonialismo ainda não era um tema amplamente discutido, Oyarzabal emergiu com grande impacto, trazendo-nos uma narrativa e imagens impossíveis de esquecer. A sua obra, potente e provocadora, desafiou as convenções e lançou luz sobre questões urgentes e, até então, muitas vezes negligenciadas.
Woman Go No’Gree
Os impérios, pela sua própria natureza, personificam e institucionalizam a diferença, tanto entre metrópole/colónia como entre sujeitos coloniais. O imaginário imperial inunda a cultura popular.
As categorias de género foram um tipo de “nova tradição” biológica que o colonialismo europeu institucionalizou em muitas culturas africanas. A infantilização das mulheres como parte do sistema patriarcal ocidental foi também exportada com a colonização da mente, prática subtil e alienante que, em muitos casos, aqueles que a executam nos vários planos intangíveis da vida quotidiana o fazem em nome da moral, dos valores, dos costumes proclamados com o truque do engano.
Questões como a classe, a raça, a idade, o género — todas elas construções sociais para o exercício do poder —, e até a saúde, devem ser tidas em conta como fundamentais para a experiência feminina.
A beleza circula como uma forma de mercadoria com valor social, econômico e cultural. No entanto, estas normas são frequentemente medidas com valores eurocêntricos, sendo as narrativas de beleza branca (magreza, juventude e brancura) e os ideais de beleza fortemente racializados. A brancura é reforçada ao mesmo tempo que é a norma, enquanto a “alteridade” se torna fetiche e algo “exótico”. Os três conceitos centrais que têm sido os pilares do feminismo ocidental — mulher, género e irmandade — só são compreendidos com uma atenção cuidada à família nuclear patriarcal de onde emergiram, forma familiar que está longe de ser universal.
O erotismo, a sexualidade, a irmandade, a maternidade, o casamento, a tradição, a domesticação, a inclusão dos homens… todos estes aspectos, com as suas luzes e sombras próprias em cada sociedade, devem ser colocados no mesmo plano para podermos comparar. Talvez compreendendo a História, possamos ultrapassar a atribuição social e simbólica apenas às diferenças que convidam à classificação hierárquica, e abrir o leque a outros factores para a construção da identidade.
Muitas feministas racializadas acreditam que o feminismo mainstream tem actuado como um lastro invisível nas suas costas, mostrando-se tradicionalmente paternalista e exclusivo com outras realidades que não se encaixam no modelo ocidental, adoptando-o como um mantra universal, e estabelecendo uma agenda que não corresponde às preocupações do mundo não-branco e falando pelo resto das mulheres do planeta. Propõe-se uma conversa em torno da descolonização do feminismo, questionando os quadros teóricos racionais eurocêntricos que constroem as categorias de género de forma universalista.
Chimamanda Ngozi Adichie fala sobre “O perigo da história única”. Desejemos novas formas de relacionar os géneros, novos modelos de diálogos interculturais não baseados na supremacia nem numa hierarquia excludente, e talvez as identidades, tanto individuais como comunitárias, possam evoluir naturalmente para uma sociedade em que não seja necessário ser invisível para avançar.
Gloria Oyarzabal
IPCI — Instituto de Produção Cultural e Imagem, Lda
Rua da Alegria 940, 4000-040 Porto
Horário:
Segunda-feira – sexta-feira
09:30–13:00/15:00–18:30
Sábado e domingo
Encerrado
